quinta-feira, 28 de julho de 2011

''Desde que me cansei de procurar, aprendi a encontrar;
Desde que o vento começou a soprar-me a face,
velejo com todos os ventos.''

(Nietzsche – A Gaia da Ciência)

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''Precisamos aprender a nos motivar com o que a realidade nos oferece.
Essa é, aliás, uma grande lição de sabedoria:
 conseguir manter-se motivado em meio à complexidade do dia-a-dia."

Contardo Calligaris, psicanalista - Agosto 2003

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Entendo o último parágrafo que envolve o meu corpo.



Continuo a velha cria do tempo. Incontrolável. Paciente. Consegui tirar a areia dos pés. Me desfiz das incertezas que grudaram no cabelo. Lavei o sal do corpo e agora vivo assim, fazendo doces de mim. Evoluo no meu papel de ser mar ou ser nada. Adoço a vida não porque ultrapasso a leveza de um pássaro. Adoço porque eu preciso fazer a alma sorrir enquanto a fechadura do desânimo não arrebenta o chão das certezas. Continuo a velha cria do que um dia não aconteceu. Ainda sou a velha cria do que nunca foi dito. Por isso, se eu escolher o silêncio, por favor, por tudo o que nos une: respeite. O meu amor há de ter maior força. E tem. E grita – no momento certo. Enquanto ele não vem, não cante os erros em um tom maior que o nosso. Porque depois de cegar, o amor ensurdece. E agora, além da certeza de que nada mais cantará tão certo como o caminho das reticências famintas de mim, entendo o último parágrafo que envolve o meu corpo: eu preciso muito me ouvir.
Priscila Rôde


A vida às vezes amanhece oculta pra gente, percebeu? E acreditamos mesmo sem querer que ela realmente não está lá sintetizando os nossos sonhos, dissolvendo as nossas metas. Por dor ou cansaço. Por cura ou preguiça. Não sei até que ponto o bordado de um pensamento positivo é forte demais, mas, desconfio que ele ainda consegue sustentar um tantinho de vida, desconfio que ele ainda pretende aquecer as nossas manhãs frias. Desconfio que embora distraída alguma surpresa ainda sonha em alcançar a orla dos nossos olhos e transformar o fragmento de um laço desfeito em um novo e resistente pedaço de fita, para amarrar os instantes mais doídos no varal do esquecimento.


Nesses desvios diários ela costuma acordar escondida mesmo, de porta e cortina fechadas, com a rotina sem fazer versos. Mas ainda está lá deitada na cama, tomando o seu silêncio fortíssimo, tentando acordar de novo pra si. E há que se ter muita paciência para ver o desenrolar desse acorde. Há que se ter muita ternura para acompanhar os passos da canção que ainda não aprendeu a dançar sozinha. Há que se ter muita vontade de ser feliz pra sempre para finalmente ser dia. Porque a vida embora pareça dormida, não aceita sentimentos requentados. Aceita um fio de sossego atravessando a porta, um cheirinho de coragem fresca desembrulhando o estômago, uma mão lhe convidando para um passeio com nós mesmos e o sorriso de quem destranca as portas de dentro.
Eu sei que os sóis que cultivamos no peito muitas vezes passam do ponto, perdem o horário e descansam um pouco mais atrás dos olhos. Mas as estrelas amigas ainda sabem muito bem de nós e esclarecem com o tempo as nossas dúvidas. É essencial não perder a mão da escolha e a leveza do pouso. É essencial não ofuscar o brilho dos afetos que constroem os nossos anéis.
O respiro de quem acorda desacreditando é pesado demais pro coração da gente.





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