Meu bom humor é de graça. Aceite. A cartilha do riso me ensina a enganar os olhos, se vejo a tristeza distraída pelos cantos, corto a volta. Aguente meu alto índice de alegria, minha poção mágica pro desespero. Aperte nas mãos meus caprichos e construa pequenos detalhes. Moro no acaso, o simples é minha corrente de esperança. Não aceito papel de má. E boazinha é um apelido quase feio. Fico no meio termo. A virtude não me atrapalha e o improvável sempre me aceita.
Às vezes escorrego, mesmo equilibrada na minha estante de conceitos. Aprenda a me ler. Apenas leia. Gosto de me esconder nas entrelinhas, de escapar nas vírgulas, de me perder nos pontos. Eu me faço, refaço, pinto e bordo do jeito estranho e poeta que sei ser. Carrego comigo o mundo, as músicas, as lembranças que, teimosa, não sei me desfazer e sorrio com chuva nos olhos, porque sempre tem algo pra se esconder. Maquiagem de graça essa, discreta como só o beija-flor sabe ser. Vou plantando o riso nas esquinas, colhendo o amor estilhaçado e reconstruindo vidas, principalmente a minha.
Tem sempre algo que falta, tem sempre uma saudade infinita, tem sempre um amor antigo, um amor morrido e um amor novinho pra ser inventado. E se é assim, invento. E reinvento todos dias, botando mais açúcar quando dá vontade ou colorindo da cor que bem desejar. Mas tem que ser doce, aceite. Preciso da doçura caminhando lado a lado, do sabor do mel nos lábios, porque já estou calejada de amargura e acidez. Principalmente das palavras, que vem com rostinho inocente, mas te derrubam e te destroem por dentro. Não, não, não. Tem que ser doce, pra aguentar o peso de todas as mentiras esfoladas que são continuamente arremessadas sobre o nosso dia a dia.
Então, por favor, aceite. A embalagem que carrego é transparente. Meus olhos possuem a doçura como lacre. Vejo o que desejo. Fecho os olhos quando perco o tino. Porque não possuo o poder de não errar. Gosto de ser humana. Meus defeitos são gritantes e minha boca costuma cuspir silêncios rodeados de solidão. Não, eu não costumo ser sozinha. Eu ando rodeada de gente. É que ás vezes minha multidão é vazia. Não ria, eu crio personagens. É minha forma de lidar com esse teatro que está montado no peito. Eu sou artista sem platéia. Criança de palavras tortas. Menina que aprendeu a não julgar. Mulher que não se esconde quando quer gritar.
E você, me aceita?
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Sim para vida
Ou você descruza os braços e abraça a vida, ou ela vai continuar passando sem que você perceba.
Permita-se.
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Sou......
Sou o que fizeram de mim, sou as minhas escolhas, sou o que sempre fui, sou o que me transformei.
Sou meus sonhos, sou as minhas decepções.
Sou minhas marcas, minhas alegrias, minhas angústias, meu vazio, meu excesso. Sou isso que não sei definir.
Sou esse peito onde pulsa um coração quente. Sou as minhas vontades, sou minha melancolia. Sou minha boca seca de amor, sou o suspiro entrecortado, sou o soluço ignorado. Sou a empolgação, sou a rebeldia.
Sou o que sou, um tanto as vezes parecido com o nada, um tanto as vezes parecido com o tudo. Sou esse amontoado de sensações, de vibações, de lágrimas, de vida.
Sou caleidoscópio, sou metamorfose ambulante .
Sou um coração em metade, que insiste em se valer sozinho, mas que sozinho, será só isso: uma metade do inteiro.
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Escrevo como que para salvar a vida de alguém.
Talvez a minha própria."
Clarice Lispector
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De vez em quando saio do chão, voo até o céu e sento nas estrelas para ver de longe a vida tecendo os seus fios. Às vezes elevar os pensamentos faz com que os meus olhos enxerguem com mais clareza todos os acontecimentos...
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